A constante busca por mais. Porque é tão difícil nos sentirmos satisfeitos?

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À luz da evolução, essa busca por mais serviu muito bem para prosperarmos como espécie. O chamado sistema de recompensa do cérebro é o circuito que processa a informação relacionada à sensação de prazer ou de satisfação, e existe pela sobrevivência: o animal precisa ter algo que o motive a buscar alimento ou sexo, por exemplo.

Mas hoje, com tantos recursos disponíveis, e sendo nós seres conscientes, poderíamos viver de maneira pela qual nossos desejos não influenciassem tanto o nosso grau de satisfação e felicidade, não é?

O fato é que, excesso para os dois lados, para mais ou para menos, diminui a nossa capacidade de atingir o nosso potencial.

O ideal seria encontrarmos um equilíbrio, que se manifesta quando percebemos o nosso suficiente: nem excesso, nem carência material.

E para encontrar esse equilíbrio é preciso compreender a diferença entre nossas necessidades e nossos desejos ou vontades.

  • Necessidades são aquelas coisas essenciais para a nossa sobrevivência e crescimento como pessoas.

  • Vontades ou desejos são bens supérfluos, que gratificam o nosso ego, mas que poderíamos viver sem.

Por exemplo, precisamos de um transporte, mas desejamos um carro de luxo.

Precisamos de roupas, mas desejamos trocar de guarda-roupa a cada estação.

Não me entenda mal, não é errado desejar e conquistar esses itens, o problema é quando você não tem claro que eles não são essenciais, e que sua satisfação e felicidade não deveria depender deles.

Esse é o ponto que quero chegar: TER não é ruim, desde que o SER acompanhe.

Quando ganhamos essa consciência, nossos bens materiais não nos tornam alienados. Colocamos o peso certo nas coisas. Eles não viram o objetivo por si só.

Até porque, se vivermos achando que quando atingirmos a próxima conquista, a próxima compra, a próxima viagem aí sim seremos felizes ou estaremos finalmente satisfeitos, estaremos alimentando uma ilusão.

Isso porque nosso cérebro funciona dentro de um ciclo de satisfação e insatisfação. Existe até uma teoria para explicar isso, chamada adaptação hedônica.

O que essa teoria diz é que existe um nível base de felicidade, e que não importa se algo te faz sentir bem ou mal, você sempre voltará ao seu estado original de satisfação.

Você conquista algo que queria muito, fica feliz, comemora, mas logo se acostuma.

Ou então algo muito ruim acontece na sua vida. Você fica triste, frustrado, deprimido, mas com o tempo, se acostuma.

E olha só, cada pessoa tem um nível de satisfação individual. Esse nível é formado por inúmeros fatores, tanto genéticos, quanto ambientais. E isso nos mostra que:

  1. O nível base de satisfação não é neutro, ou seja, algumas pessoas tem essa régua um pouco mais alta do que outras;

  2. Nós temos múltiplas réguas. A felicidade é composta por diferentes fatores (vida pessoal, amorosa, trabalho, etc) que contribuem para o nosso bem estar e cada um desses fatores tem um nível base diferente de satisfação;

  3. O que é satisfação muda, dependendo da pessoa ou do ambiente a sua volta. Isso tem a ver com prioridades de vida e afeta a intensidade da satisfação de cada pessoa quando experienciam os mesmos acontecimentos. Por exemplo: podemos ter o mesmo cargo no trabalho, mas eu me sinto mais feliz do que você quando recebemos o mesmo tipo de promoção;

Portanto, o que importa, no fim das contas, é a sua percepção de felicidade. Sua régua está em um nível satisfatório ou você sente que poderia olhar para as coisas com mais gratidão?

O prazer é passageiro por natureza. Não chegará um momento na nossa vida em que estaremos permanentemente satisfeitos.

Dito isso, quero deixar algumas reflexões para você analisar como está a sua relação com o consumo e como essa relação pode estar afetando o seu grau de satisfação:

  • Estou consumindo para atender uma necessidade ou a um desejo?

E aqui em necessidade não estou falando só de uma necessidade material: necessidade pode ser tudo aquilo que me faz prosperar como pessoa, que me mantém em evolução.

Caso você perceba que é um desejo:

  • Eu dependo da conquista desse desejo para ser uma pessoa mais feliz?

  • Até que ponto o meu trabalho e estilo de vida estão vinculados somente a manutenção dos meus desejos?

  • Eu vinculo a minha identidade com os meus itens materiais a ponto de que, se não mais os tiver, serei menos feliz?

  • Quando conquisto um desejo, o tempo de satisfação por ter conquistado é cada vez menor e já começo a desejar outra coisa?

Essa busca – inconsciente – por mais nos desvia constantemente do “eu” que realiza a busca.

Quanto mais acreditamos que a vida gira em torno da busca por coisas, menos olhamos para quem somos.

Somos muito mais do que nossos bens materiais, e nossa identidade como pessoas não deveria depender deles.

Se conheça mais, valorize o seu potencial, investigue suas sombras, e de forma compassiva, procure crescer como pessoa em um aspecto mais amplo: físico, emocional, mental e espiritual.

E nessa jornada de autoconhecimento perceba o que é uma necessidade e o que é um desejo. O objetivo não é negar o lado material da vida, mas colocar o peso certo àquilo que tem real importância.

Espero que este texto tenha feito sentido, e se quiser comentar o que achou vou adorar saber.

Um ótimo domingo!

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